Apoquentações que até me fazem coiso – COVID-19

Acredito que, depois desta série distópica de sabe-se lá quantos episódios, a minha mentalidade vai sofrer umas certas alterações. Irei levantar questões inimagináveis sobre diversos assuntos. Mas, desde que passei a lavar a fruta com sabão azul e branco, já não me consigo espantar a mim própria (ter acrescentado o “a mim própria” é redundante?).

Pensemos na aquisição de uma nova habitação:

  • Tem varanda? Se não, algum raio de sol entra pela janela? Mas espera, se o apartamento for num andar muito alto, consigo estar na janela sem ter vertigens?

  • Se morar no 10º andar, tenho fôlego para subir sem ser de elevador com um carregamento de papel higiénico para fazer o guarda-roupa dos próximos 50 filmes d“A Múmia”?

  • Consigo olhar 24/7 para estes bibelots?

  • Tenho coisas para me entreter durante meses?

  • Se tiver de trabalhar em casa, tenho uma secretária confortável com uma cadeira que não me lixe as costas?

Pensemos, agora, na aquisição de um novo par:

  • Consigo estar fechado com esta pessoa durante um mês ou mais?

  • Será que usa muito papel higiénico?

  • É uma pessoa de muito alimento?

  • Tem etiqueta respiratória?

Pensemos, por fim, na aquisição de um filho:

  • Consigo estar fechado com esta pessoa durante um mês ou mais?

  • Tenho os meus antigos apontamentos da escola para rever a matéria antes que ele me faça perguntas?

  • Estou preparado para o meu filho me achar burro?

Sintam-se livres para adicionar questões e não se esqueçam de garantir já a vossa consulta de psicologia porque, pelo andar da carruagem, só vai haver vagas para daqui a sabe-se lá quando.

Ah, e lembrem-se que isto não está ganho. Já ouvi uns “Vizinha, parece que o vírus tá a ir embora”. Não está… Infelizmente veio para ficar e não podemos baixar a guarda, com ou sem vacina ao fundo do túnel.