Acredito que, depois desta série distópica de sabe-se lá quantos episódios, a minha mentalidade vai sofrer umas certas alterações. Irei levantar questões inimagináveis sobre diversos assuntos. Mas, desde que passei a lavar a fruta com sabão azul e branco, já não me consigo espantar a mim própria (ter acrescentado o “a mim própria” é redundante?).
Pensemos na aquisição de uma nova habitação:
Tem varanda? Se não, algum raio de sol entra pela janela? Mas espera, se o apartamento for num andar muito alto, consigo estar na janela sem ter vertigens?
Se morar no 10º andar, tenho fôlego para subir sem ser de elevador com um carregamento de papel higiénico para fazer o guarda-roupa dos próximos 50 filmes d“A Múmia”?
Consigo olhar 24/7 para estes bibelots?
Tenho coisas para me entreter durante meses?
Se tiver de trabalhar em casa, tenho uma secretária confortável com uma cadeira que não me lixe as costas?
Pensemos, agora, na aquisição de um novo par:
Consigo estar fechado com esta pessoa durante um mês ou mais?
Será que usa muito papel higiénico?
É uma pessoa de muito alimento?
Tem etiqueta respiratória?
Pensemos, por fim, na aquisição de um filho:
Consigo estar fechado com esta pessoa durante um mês ou mais?
Tenho os meus antigos apontamentos da escola para rever a matéria antes que ele me faça perguntas?
Estou preparado para o meu filho me achar burro?
Sintam-se livres para adicionar questões e não se esqueçam de garantir já a vossa consulta de psicologia porque, pelo andar da carruagem, só vai haver vagas para daqui a sabe-se lá quando.
Ah, e lembrem-se que isto não está ganho. Já ouvi uns “Vizinha, parece que o vírus tá a ir embora”. Não está… Infelizmente veio para ficar e não podemos baixar a guarda, com ou sem vacina ao fundo do túnel.