(Texto da 3ª Jornada do Campeonato de Escrita Criativa organizado por Pedro Chagas Freitas. Os desafios de cada jornada não podem ser divulgados. Ah, e já acabou. Se ganhei? Sim, juízo. Vá, fiquei em 15º lugar (foram 78 os participantes). Se agrupar as pontuações iguais (pessoas com pontuações iguais eram distinguidas apenas pela ordem alfabética do seu nome) fiquei em 9º lugar (em 55).)
Participei do novo programa da SIC, o “Quem quer namorar com o coveiro?”. Logo nas primeiras conversas quem me impressionou mais foi o coveiro Tobias. Era muito bem disposto. A primeira coisa que disse quando me viu surgir pelo meio dos jazigos foi “Esta aqui até faz levantar um morto!”. Simpatizámos logo um com o outro e, portanto, não fiquei surpreendida quando fui uma das suas escolhidas para passar 3 dias na sua casa e aprender um pouco do seu ofício.
Lá cheguei ao seu lar, um anexo no Cemitério dos Prazeres, e ele fez-nos logo trabalhar. Deu-nos galinhas Juremas de plástico para enterrarmos. Exemplificou com uma, mas antes de a pôr na cova apertou-a e disse “Comigo todas chiam!”.
Porém, por detrás de um coveiro brincalhão estavam uns olhos inexpressivos. Num dos nossos encontros contou-me o que o deixava morto por dentro:
“Quando era adolescente o grande amor da minha vida, a Ofélia, desapareceu. Ninguém sabia de nada. Até que me disseram que ela tinha ido estudar para a Alemanha. Passado um ano, eu e o meu pai fomos de férias para Lisboa. Ele quis vir ao Cemitério dos Prazeres apreciar os jazigos modernos da capital. No meio do passeio vi a foto dela numa das campas. Olhei para o meu pai. Ele sabia que ela tinha morrido mas não fazia ideia que tinha sido enterrada aqui. Contou-me que ela fugiu com um gajo para Lisboa e o filho da puta matou-a. O assassino foi preso. Mas e ela? Não a podia deixar aqui sozinha. Desde então que estou todos os dias perto dela. Deves-te estar a perguntar porque é que me inscrevi neste programa. Um dia destes, a Ofélia pediu-me para eu continuar com a minha vida. Estou a tentar. Mas não sei se vou conseguir...”.