Tomilho vibes

Estava preocupada com a minha conta bancária. O mês está a acabar, mas ainda não recebi o salário. Para além disso, ainda tenho um trabalho para acabar. Saio do autocarro e passados 5 minutos de passo acelerado chego a casa. Começo a fazer o jantar. Vou assar batatas doces cortadas aos cubos. Ao temperá-las penso em usar tomilho, já que nunca o usei para cozinhar. Pego no frasco e cheiro o seu conteúdo.

Este cheiro não me é estranho. E dou por mim a rir-me sozinha. Sinto-me feliz, como se me tivessem acabado de contar uma piada. Porém, ao mesmo tempo, sinto uma ternura. Oh diabo, mas porque é que me sinto assim? Será que não me lembro e andei a sniffar tomilho? Ou a minha mãe já usou isto nos seus cozinhados? Fico neste dilema uns minutos com o tomilho na mão, feita parva. Até que a verdade vem como um raio e com ela um sentimento adicional: tristeza. Dou por mim com os olhos marejados.

Lembro-me então da minha gata. Pantufa chamava-se a bichana. Um dia a minha mãe deixou cair um saco fechado com tomilho e a Pantufa foi a correr, cheirou-o e ficou completamente maluca. Esfregou-se toda, rebolou-se, ficando o seu pêlo inundado com o perfume da erva aromática. Ficou bem temperadinha. Não sei o porquê da fixação com o tomilho. Será que o catnip é arraçado de tomilho? Depois desta memória veio outra que era impossível não a seguir. O momento em que tive de me despedir dela. O último olhar, a última lambidela. Com tudo isto perdi-me nas horas e já não vou poder acabar o trabalho. Mas fiquei com a ideia de adoptar outra gatinha.