juízo…
Os participantes podiam enviar quantos contos quisessem, tinham é de ter no máximo 100 palavras (título não incluído) e de seguir o tema “Não estar em casa”. O prémio eram 600€, para além de voo e estadia de 2 noites em Bruxelas.
Enviei 3 minicontos que não me serviram de bilhete para Bruxelas, mas servem de conteúdo para este humilde blog. Aqui estão eles:
Para Sempre
A imortalidade mora nesta cama. Mora nos teus cabelos. Na tua nuca. A minha imortalidade. A minha mão toca as tuas sardas. Tu não sentes. Olhas através de mim. É um carro que me atravessa. Morro outra vez. Outra luz forte. Outra batida. Outro sabor metálico. Outros soluços. Os teus. Naquela noite e nesta. Até quando? Quero que me esqueças. Queria que não me tivesses amado. Queria que não me amasses. Que já não me amasses. Mas quero continuar a amar-te. A ver-te. A tocar-te. Já não estou em casa, mas é a minha casa que torno todas as noites.
31 de janeiro de 2050
Wake me up before… Submerjo do mar negro em que me encontrava há mais de 5h. Desligo o despertador e tiro-me da cama, calçando os chinelos. Tomo um duche rápido e como a ração que me foi indicada. Ela contém todos os nutrientes de que preciso. Preciso também de me despachar, já estou atrasado para o meu turno. Chego à sala de controlo e olho para a janela. Lá está ela. A esfera azul polvilhada de humanidade. Já falta pouco.
Qual é coisa qual é ela
Cheguei a casa e pus-me logo à janela. Fiquei lá o dia todo, mas à noite entre beijos, carícias e “amo-te”, saí. Ausentei-me durante umas boas horas. Umas belas horas, mas não para mim. Fui um mero espectador, deitado no soalho frio. De manhã pensei que chegaria novamente a casa, porém caí quando ela apressada vestiu a camisa. Lá continuei eu no chão do ninho de amor. Ela não voltou mais e eu arranjei uma nova casa: o saco do aspirador.
Fica para a próxima, Bruxelas!