(Texto da 1ª Jornada do Campeonato de Escrita Criativa organizado por Pedro Chagas Freitas. Os desafios de cada jornada não podem ser divulgados. O que é que vou ganhar? Provavelmente juízo.)
- Lembro-me, como se fosse ontem, do primeiro caso que fez de ti um verdadeiro advogado. Um dia, o teu melhor amigo Pedro apanhou-me fora de casa e roubou-me uma caixa com jóias preciosíssimas. Confrontei-o. Tu ouviste tudo e não querias acreditar, mas ficaste do meu lado mesmo mal me conhecendo. Eu tinha-me mudado há pouco tempo. Fomos a tribunal. Chegou o dia do julgamento e lá estavas tu pronto para fazer justiça, mas ao mesmo tempo com medo de perder a amizade do Pedro. Porém, já tinhas uma carta na manga. Propuseste que se fizesse um acordo que beneficiasse ambas as partes: o teu amigo podia ter em sua posse as minhas jóias preciosas uma vez por semana. O teu poder de persuasão fez-me concordar e saímos todos satisfeitos do tribunal que ficava na cave da tua casa. Assim, religiosamente, uma vez por semana, lá ia o Pedro a minha casa buscar os meus livros de banda desenhada do Daredevil. Foi naquele julgamento, quando tínhamos 8 anos de idade, que te vi advogado e meu amor para a vida.
Ana desvia o olhar do papel, tem a garganta a arder e já não consegue guardar mais as lágrimas. Ouve a sua irmã a soluçar. Ela é a mais sensível das duas, mas está sempre presente nos momentos mais marcantes da sua vida.
Olha para os pais de João. Estão expectantes. Querem ouvir mais acerca do seu filho. De como ela o lembrava.
Volta a olhar para o papel mas detém-se em frente. Olha para João. Tem os olhos fechados e a boca serena.
Ela já não consegue dizer mais nada. O padre retoma a palavra:
- Ana, é de livre e espontânea vontade que aceita João como seu futuro marido?
- Sim, claro que sim!