(Texto da 2ª Jornada do Campeonato de Escrita Criativa organizado por Pedro Chagas Freitas. Os desafios de cada jornada não podem ser divulgados. Ah, e já acabou. Se ganhei? Sim, juízo. Vá, fiquei em 15º lugar (foram 78 os participantes). Se agrupar as pontuações iguais (pessoas com pontuações iguais eram distinguidas apenas pela ordem alfabética do seu nome) fiquei em 9º lugar (em 55).)
Joana tira as mãos da cara. Olha para o vidro à sua frente. Vê os seus olhos cansados, mas, para além disso, mais nada. Surgem, de repente, outros olhos. São grandes e de um verde pouco comum. Joana assusta-se, mas rapidamente se apercebe que são os do seu outro eu, da sua outra metade do citrino.
- Como estás? Tens dormido? - pergunta-lhe Joana
- Tem sido complicado. Os outros reclusos não me deixam descansar. Estão sempre aos gritos e a mijar fora do sítio.
- Não lhes ensinaram onde fazer?
- Sim, mas ainda são pequenos. E neste ambiente é difícil alguém aprender alguma coisa.
- E o que é que te têm dado de comer?
- Sempre a mesma ração e nada de petiscos.
- De peixe?
- Nem sei do que aquilo é. Ah, mas tenho uma novidade!
- Vão passar a dar-te comida gourmet! - grita Joana.
- Achas!? Não… Os donos desta prisão vão pôr-me em liberdade na terça!
- A sério?! Mas eles estavam tão relutantes em deixar-me adotar-te...
- Eles querem é dinheiro, mas como ninguém, além de ti, se interessava por mim…
- Como é que é possível… Bem, mas olha, como sou uma otimista incorrigível, já tenho, desde a semana passada, tudo pronto para te receber na nossa casa. Comedouros, caixa de areia, ratinhos de pelúcia…tudo o que possas imaginar!
E Bigodes, perante esta revelação, coloca as patinhas dianteiras no vidro. Joana faz o mesmo (neste caso, com as mãos) e ali ficam, de mãos e patinhas dadas com o vidro frio da loja já fechada, até o centro comercial ficar na escuridão.