Casamentex

Lembram-se do Simplex? (falo como se tivesse acabado…)

Imaginem uma medida para tornar os casamentos civis mais simples e baratos: casamentos no balcão do registo civil.

Fila de casais com a senha H (já não há senhas para os que chegaram agora. “Só amanhã. E as últimas senhas passam para a tarde”. Até parece que estou a ouvir as funcionárias. Que saudades das manhãs inteiras passadas nas finanças/segurança social para trazer uma folha de papel que custa os olhos da cara). Alguns estão vestidos de noivos (crianças que estão com os pais que têm outras senhas brincam com a barra do vestido das noivas) outros estão vestidos à civil (BAA-DUM-THHS) (offtopic: Quando era pequena pensava que os polícias à paisana andavam vestidos tipo mexicanos com um sombrero e tudo. Achava um pouco esquisito já que era suposto não darem nas vistas, mas a palavra “paisana” fazia-me lembrar mexicanos). E sim, há senhas, mas também há pessoas que gostam de fazer filas mesmo quando o atendimento é por senhas.

Existem vários monitores na sala que dão a informação do nº das senhas e de conselhos para uma boa vida a dois. E para ser mais realista existem vários monitores, mas só um é que funciona e é o que está no cu de Judas e tens de te levantar para ver em que senha vai (os outros dois é só para as pessoas se questionarem sobre o seu uso). Conversas mais ouvidas “Qual é a sua senha? Ah, a minha é a 666. Já cá estou desde madrugada… Blá, blá, blá” (nos centros de saúde é mais “Você está para a Dra. Coisa? Eu também. Você é de que hora? Ah, eu sou das 11:30”).

Chega a vez do nosso casal maravilha. Aproximam-se do balcão. A fila do lado é para os divórcios simplex. Divorcex. Parece nome de medicamento. Entregam a senha à funcionária que é colocada num cestinho (a senha, não a funcionária). Funcionária: “Nomes?”. “Somos a Cocozinha e o Xixizinho”. “Qual a modalidade pretendida: comunhão de adquiridos, comunhão geral, separação?”. “O que é meu é dela”. “Modalidade trouxa então”. “Desculpe?”. “Ahm? Assinem aqui como consta no cartão do cidadão” Marca com uma cruz a linha para os noivos assinarem. “Querem chuva de arroz quando saírem?”. “Sai mais caro?”. “Não”. “Então pode ser. Mas quem é nos vai atirar com o arroz? Os outros casais?”. “Não, são os meus colegas quando forem fazer a pausa para fumar. Não se preocupem que não demora muito. Eles costumam ir de meia em meia hora” “Ah, mas esperem lá. Acabou o arroz. A cozinheira teve de o usar para o almoço.”. A funcionário saca do cesto com as senhas e atira-as contra o casal tipo confettis. “Aqui têm! Parabéns aos pombinhos. Não se esqueçam que durante um ano após o casamento o divórcio fica a metade do preço. Adeus! Saudinha!”.

No final do “casamento” do casal que veio a seguir não houve confettis ao que eles reclamaram. Funcionária: “O cesto precisa de encher. Agora só daqui a 50 casais é que rende”.


P.S.: Os diálogos estão tão claros que até parece Saramago.