A roda gigante fazia parte do parque de diversões de Pripyat que iria ser inaugurado em 01/05/1986, mas foi cancelado devido ao desastre em 26/04 do mesmo ano. Algumas fontes afirmam que o parque foi aberto no dia 27/04, antes do aviso de evacuação, para destrair a população. A roda gigante nunca chegou a elevar ninguém até aos céus. Nem sequer a sua construção estava acabada.
Título original: Tchernobylskaia Molitva
1ª Publicação: 1997
1ª Publicação em PT: 2016
Subtítulo na edição PT: História de um desastre nuclear
O meu humilde exemplar:
Tradutora: Galina Mitrakhovitch
Editora: Elsinore – 20 | 20 Editora
3ª Edição - 2018
Capa mole
328 páginas
Comprado na 89ª Feira do Livro de Lisboa (2019)
Curiosidades:
Svetlana Alexievich recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 2015;
Comprei este livro no 1º dia da Feira do Livro de 2019;
O livro recolhe relatos orais de pessoas que viveram o desastre: mulheres de liquidadores, mulheres de bombeiros, liquidadores, crianças, a própria Svetlana…
No livro fala-se muito de como a Bielorrússia foi afetada e como se deu pouco destaque a esse facto;
Vou usar 1500 excertos do livro porque só lendo...
Sinopse numa frase:
A história do desastre de Chernobyl por detrás dos panos.
Estava eu muito bem a ter o meu ritual de beleza noturno, que inclui cremes e ver vídeos no Youtube, quando escolho o vídeo da booktuber Tatiana Feltrin sobre o Vozes de Tchernóbil:
Vejo vários vídeos desta booktuber, mas este saltou-me à vista porque, como todo o bom Ser Humano, tenho uma queda para gostar de desgraças históricas.
Fiquei com o livro atrás da orelha, porém naquela altura não o podia comprar. Dias depois, chega-me aos olhos um dos trailers da minissérie Chernobyl da HBO. Aquele “Vnimanie, Vnimanie” era aterrador. Lá estreou e vi os episódios todos (recomendo vivamente). No meio da visualização tivemos a Feira do Livro de Lisboa e, TARAM, o Vozes de Chernobyl era livro do dia logo no 1º dia de feira. Lá fui eu trazer um exemplar para casa.
Deixei acabar a série e logo em seguida comecei a ler o livro (coloquei em standby a leitura do Anna Karénina…). Pensei que o livro não me ia impressionar mais do que a série, que já estava vacinada, porém enganei-me redondamente.
Logo quando comecei a ler a primeira história pensei “Pera lá, eu já li isto em qualquer lado...”. Não li, mas vi na série. A primeira história do livro é a da Liudmila Ignatenko, a mulher do falecido bombeiro Vassíli Ignatenko. E se pensam que na série viram o pior desta história…
“Quando descobriu que iriam extrair medula óssea da irmãzinha mais nova, recusou-se terminantemente. “Preferia morrer. Não lhe toquem, ela é pequena.” A irmã mais velha, Liúda, tinha vinte e oito anos, e era, ela própria, enfermeira, sabia em que é que se estava a meter. “Desde que ele sobreviva”, dizia ela. Eu vi a operação. Estavam deitados um ao lado do outro nas marquesas… Havia uma grande janela que dava para a sala de operações. Demorou duas horas. Quando acabaram, Liúda estava pior do que ele, tinha dezoito perfurações no peito, recuperou com dificuldade dos efeitos da anestesia. Agora é doente, tem invalidez… Era uma rapariga forte e bonita. Nunca se casou.”
“Nem conseguia sentir o leve bater debaixo do meu coração. Embora estivesse de seis meses… Pensava que a minha pequenina estava dentro de mim, que estava protegida. Minha pequenina...”
“Vestiram-no com uniforme de gala, puseram o quepe ao peito. Não encontraram calçado para ele, porque as pernas tinham inchado. Tinha bombas em vez de pernas. Também tiveram de cortar o uniforme, porque não o conseguiram vestir, já não havia um corpo inteiro. Todo ele – uma ferida em sangue. Nos últimos dois dias no hospital… Levanto-lhe o braço e o osso abana, dança, o tecido corporal desprendeu-se dele. Pedacinhos dos pulmões e do fígado saíam-lhe pela boca… Ele engasgava-se com as próprias vísceras… É impossível contá-lo! É impossível escrevê-lo! E mesmo viver… Tudo nele era amado… Tão amado...”
“Catorze dias é quanto dura a evolução da sídrome aguda da radiação. Em catorze dias uma pessoa morre...”
“Matei-a… Eu… ela… salvou… A minha menina salvou-me, recebeu todo o choque radioactivo, foi como um para-raios. Minha bebezinha. Tão pequenina. [Respira com dificuldade.] Ela salvou-me… Mas eu amava-os aos dois. Porque… Porque não se pode matar com amor, pois não? Com tamanho amor! Porque é que estas coisas andam a par? Amor e morte. Estão sempre juntas. Quem me vai explicar isto? Rastejo à volta da sepultura de joelhos… [Longo silêncio.]”
Nota-se claramente que algumas das pessoas que deram voz a este livro não estão bem psicologicamente, mas têm reflexões que beiram a poesia.
Outra realidade difícil de se ver na série e de ler no livro foi o que faziam com os animais. As pessoas foram evacuadas e não podiam levar os seus patudos. Assim, foram deixados para trás e abatidos por caçadores, porque, supostamente, estavam contaminados. Pergunto-me porque não os deixaram simplesmente lá. Acho que dificilmente iriam para fora da zona de evacuação.
“Ora, a cadela está no meio da sala e os filhos ao redor… Atacou-me: apanhou logo com a bala… Os cachorrinhos lambem-me as mãos, vêm com meiguices. Traquinas. Tinha de atirar à queima-roupa… Ai, minha nossa! Um cachorro… Um canichezinho preto… Ainda hoje sinto pena dele. Enchemos o camião até transbordar. Levamo-los ao “depósito do subsolo”… Verdade seja dita, é uma fossa profunda comum, embora as regras mandem escavá-la de modo a não atingir as águas subterrâneas, revestindo-se o fundo com celofane. Encontrar um sítio elevado… Mas estas regras, como bem compreende, não eram cumpridas em lado nenhum: não havia celofane, não se perdia muito tempo à procura do sítio adequado. Os animais se não estiverem mortos mas apenas feridos, chiam… Choram… O camião atirou-os para a fossa, mas esse canichezinho foi trepando. E saiu. A ninguém sobrou um cartucho… Não havia com que matar a tiro… Nem um único cartucho… Foi empurrado de novo para a fossa e coberto com terra. Ainda hoje tenho pena.”
De partir o coração são também os testemunhos de crianças ou acerca de crianças. Elas têm uma consciência da morte que, normalmente, as crianças não possuem. Passam muito tempo no hospital, vêm os amigos morrerem, sonham com a morte...
“Voltámos para casa. Tirei tudo, despi a roupa toda que usava lá e atirei-a para a conduta de lixo. Quanto ao barrete, dei-o ao meu filho pequeno. Ele pedira-mo muito. Andava de barrete sem nunca o tirar. Dois anos depois foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral…”
“Levámos à zona de Chernobyl um espetáculo alegre, Dá-me Água, Ó Poço. Um conto fantástico. Chegámos à vila de Khotimsk, no centro do distrito. Ali existe um orfanato. Aquelas crianças não foram retiradas.
Intervalo. Não batem palmas. Não se levantam. Estão caladas. Segunda parte. O espetáculo acabou. Não batem palmas. Não se levantam. Estão caladas.
Os meus alunos estão quase a chorar. Juntamo-nos nos bastidores, perguntamo-nos: o que se passa com eles? Depois percebemos: as crianças acreditavam em tudo o que se passava no palco. Na peça esperava-se um milagre. Outras crianças, as que vivem em família, compreendiam que era teatro. Mas estas estavam à espera de um milagre.”
“Os meus alunos apaixonam-se, têm filhos. Os filhos deles são silenciosos, fracos. Depois da guerra regressei do campo de concentração… Estava viva! Naquela altura era preciso apenas sobreviver, a minha geração ainda hoje fica admirada por ter sobrevivido. Eu podia comer neve em vez de água, podia não sair do rio o verão inteiro, podia mergulhar cem vezes. Os filhos deles não podem comer neve. Mesmo a neve mais branca e pura… [Fica ensimesmada.]”
“Hoje uma mãe trouxe a filha à minha consulta. “O que te dói?” “Dói o mesmo que à minha avó: o coração, as costas, tenho tonturas.” Conhecem a palavra alopecia desde pequenos porque muitos andam carequinhas. Sem cabelo. Sem sobrancelhas, sem pestanas. Todos se habituaram a isso. Mas na nossa aldeia só há escola primária, para frequentar o quinto ano é preciso ir de autocarro dez quilómetros. E choram porque não querem ir. As outras crianças vão-se rir delas.”
“Eu estava internada no hospital… Tinha tantas dores… Pedia à minha mãe: “Mãezinha, não aguento. Prefiro que me mates!”
“Deixámo-lo em casa e fechámos o meu hamsterzinho. Branquinho. Deixámos-lhe comida para dois dias. Mas partimos para sempre...”
“A mãe e o pai beijaram-se, e eu nasci. Antes eu pensava que nunca iria morrer. Mas, agora sei que vou morrer. Havia um menino no hospital… O Vádik Korinkov… Desenhava-me passarinhos, casinhas. Ele morreu. Morrer não me assusta. Vais dormir por muito tempo, nunca irás acordar. O Vádik dizia-me que quando morresse iria viver muito tempo noutro lugar. Um dos meninos mais velhos tinha-lo dito. Ele não tinha medo. Sonhei com a minha morte. Ouvi no sonho o choro da minha mãe. E acordei...”
“Desapareceram os besouros. Ainda hoje não os temos. Poderão regressar daqui a cem anos ou mil anos, diz o nosso professor. Mesmo eu não os vou ver… Tenho nove anos… E então minha avó? É velhinha...”
“Tenho doze anos… Estou sempre em casa, sou inválida. Na nossa casa, o carteiro traz a pensão para mim e para o meu avô. As raparigas da minha turma, quando souberam que eu tinha cancro do sangue, tinham medo de se sentar ao meu lado, de me tocar. Eu olhava para as minhas mãos… Para a minha pasta e para os meus cadernos… Nada tinha mudado. Porque têm medo de mim? Os médicos disseram que adoeci porque o meu pai trabalhou em Chernobyl. E eu nasci depois. Mas eu gosto do meu papá.”
“Tenho um irmão pequeno… Ele gosta de brincar a Chernobyl. Constrói um abrigo contra as bombas, cobre o reator com areia… Ou veste-se como um espantalho, corre atrás da gente e mete medo: “Oh oh oh! Sou a radiação! Oh oh… Sou a radiação!” Ele ainda não era nascido quando aquilo aconteceu.”
“Estão todos calados: o professor, os médicos, as enfermeiras. Pensam que não suspeito, que não sei que vou morrer daqui a pouco tempo. (…) O meu melhor amigo chamava-se Andrei… Foi operado duas vezes e mandado para casa. Esperava-o uma terceira cirurgia seis meses depois… Enforcou-se com o cinto… Na sala de aula vazia, quando estavam todos na aula de educação física. Os médicos proibiram-no de correr, de saltar. Dantes era considerado o melhor futebolista da escola. Antes… Antes da operação… Tive muitos amigos aqui… A Iúlia, a Kátia, o Vadim, a Oksana, o Óleg… Agora o Andrei… “Vamos morrer e tornar-nos ciência”, dizia o Andrei. “Vamos morrer, seremos esquecidos”, assim pensava a Kátia. “Quando morrer, não me enterrem no cemitério, tenho medo do cemitério, só há mortos e corvos. Enterrem-me no campo”, pedia a Oksana. “Vamos morrer...”, chorava a Iúlia. Para mim, o céu agora é vivo, quando olho para ele… Eles estão lá...”
Neste livro fala-se também muito do espírito soviético. A maioria das pessoas não se importava com o individual, com a sua própria morte. Importava sim, proteger a União Soviética, fisicamente e moralmente. Porém, acredita-se que a catástrofe de Chernobyl ajudou na sua queda.
“Fomos educados no espírito de um paganismo soviético particular: o homem é soberano, a obra-prima da criação. Está no direito de fazer com o mundo tudo o que quiser. A fórmula de Mitchúrin: “Não podemos esperar favores da Natureza: temos de os arrancar dela – é essa a nossa tarefa.” A tentativa de incutir no povo as qualidades e as características que ele não possui. O sonho de revolução mundial é o sonho da transformação do homem e de todo o mundo à sua volta. Refazer tudo. Sim! O famoso lema bolchevique, aquela frase de Trótski: “Levaremos a humanidade à felicidade com mão de ferro!”
“Rapazes novos… Também estão a morrer, mas compreendem que se não tivessem sido eles… Além disso, são pessoas de uma cultura particular. A cultura da proeza. Do sacrifício.”
“Nos primeiros dias as pessoas experimentaram não só o medo, mas também uma elevação do espírito. Eu sou a pessoa a quem falta instinto de autopreservação. É normal porque está fortemente desenvolvido o sentido do dever. Havia muita gente assim, não era só eu… Tinha na minha secretária dezenas de pedidos: “Peço-lhe que me envie para Chernobyl.” O apelo ao coração! As pessoas estavam dispostas a sacrificar-se, sem hesitar e sem exigir nada em troca. Escrevam o que escreverem, o caráter soviético existiu. E o homem soviético existiu. Escrevam o que escreverem e renegarem… Ainda vão ter saudades deste homem… Vão recordá-lo...”
“Chernobyl fez desabar o império, curou-nos do comunismo… Dos atos heróicos que parecem suícidios, das ideias terríveis… Já começo a entender… O ato heróico são palavras inventadas pelo Estado. Para pessoas como eu. Mas eu não tenho mais nada, não tenho outra coisa, cresci no meio dessas palavras e dessas pessoas. Desapareceu tudo, esta vida foi-se. A que me devo agarrar? Como me hei de salvar? Não se pode sofrer assim sem haver sentido. [Silêncio] Só sei que nunca mais serei feliz...”
“Naquela altura eu pensava noutra coisa… Vai-lhe parecer estranho… Precisamente naquela altura divorciava-me da minha mulher… (…) Mas eu, naquela altura, andava quase louco. A minha mulher traíra-me, tudo o resto parecia parvoíce. (…) Mas a minha esposa deixara-me… Não conseguia pensar noutra coisa… Tentei suicidar-me várias vezes, engolia comprimidos e desejava nãp acordar. Tínhamos frequentado o mesmo jardim de infância e a mesma escola… O mesmo instituto… (…) Assaltavam-me pensamentos do género: não sendo tempo de guerra, segundo parecia, porque teria eu de arriscar, quando alguém andava a dormir com a minha mulher? Porquê outra vez eu e não ele? Para ser franco, não vi heróis lá. Vi tresloucados que menosprezavam as próprias vidas, houve também temeridade, mas não era necessária. Tambŕm tenho certificados de louvor e agradecimentos… Mas tudo isso é porque não tinha medo de morrer Queria lá saber disso! Até podia ser uma saída. Seria enterrado com todas as honras… E à custa do erário público… (...)
Os jornais eram distribuídos diariamente. Eu só lia as manchetes: “Chernobyl: lugar de feitos heriocos”, “O reator foi derrotado”, “A vida continua”. Tínhamos comissários políticos, realizavam-se palestras sobre o momento político. Diziam-nos que havíamos de vencer. Quem? O átomo? A física? O espaço cósmico? No nosso país, a vitória não é um acontecimento, é um processo. A vida é luta. Daí tanta afeição por inundações, incêndios… Terramotos… É preciso um lugar de ação “para mostrar coragem e heroísmo”. E hastear a bandeira. O comissário político lia artigos dos jornais sobre o “alto nível de consciência e organização precisa”, e como poucos dias após o acidente a bandeira vermelha já voava sobre o quarto reator. Ardentemente. Poucos meses depois, a alta radiação devorou-a. Hastearam uma nova bandeira. Em seguida, mais outra… Rasgavam a bandeira velha para lembranças, enfiavam os fragmentos dentro do casaco, perto do coração. Depois levavam-nos para casa… Mostravam-nos com orgulho às crianças… Guardavam-nos… A loucura heroica! Mas eu também sou assim… Não sou melhor, de modo algum. Tentava imaginar em pensamentos os soldados a subirem ao telhado… Suicidas. Mas eles transbordam de sentimentos… O primeiro é o dever, o segundo, o de Pátria. Dirá: paganismo soviético? Mas a questão é que, se me tivessem posto a bandeira nas mãos naquele momento, eu também teria subido para lá. Porquê? Não sei responder. Não podemos certamente descartar o facto de naquela altura eu não ter medo de morrer… A minha mulher não me escreveu sequer. Nem uma carta em seis meses…”
“Lançado o apelo, lá fui. Tinha de ir! Era militante do Partido. Comunistas, avante! Era esta a situação. Eu servia na milítsia. Primeiro-sargento. Foi-me prometida mais uma estrelinha nas platinas. Corria o mês de junho de 1987… É obrigatório passar um exame médico, mas fui enviado sem exame. Como se costuma dizer, alguém se safou, trouxe um atestado em como tinha úlcera gástrica, e enviaram-me em vez dele. Com urgência. Era esta a situação… [Risos] Naquela altura já circulavam anedotas. Surgiram logo… O marido chega do trabalho a casa e queixa-se à mulher: “Disseram-me: amanhã ou vais para Chernobyl, ou devolves o cartão de militante.” “Mas se não és militante!” “Pois, estou precisamente a pensar onde hei de arranjar cartão de militante até amanhã.””
“Sou militar, recebo uma ordem – devo cumprir… Prestei juramento… Mas não é só isso… O impluso heroico também existiu. Fora formado… Fora-nos inculcado ainda na escola. Pelos nossos pais. Lá, também havia discursos de comissários políticos. Rádio, televisão. Diferentes pessoas reagiam de formas diferentes: algumas queriam ser entrevistadas e ver uma publicação sobre si nos jornal, outras encaravam tudo como um trabalho, outras ainda… Conheci-as, viviam com a sensação de estar a cometer um ato heroico. De participar na História. Éramos bem pagos, mas era como se a questão do dinheiro não tivesse tido importância. O meu salário são quatrocentos rublos, e lá eu recebia mil, nos rublos daquela época, os soviéticos. Naquele tempo, um monte de dinheiro. Mais tarde acusaram-nos: “Vocês lá ganhavam dinheiro a rodos, mas depois de regressar exigem carros e mobiliário fora da lista de espera.” Isto magoa, claro. Porque o impulso heroico também existiu...”
Por fim, há pessoas que afirmam que existem coisas mal explicadas na série, como:
O facto de a radiação não ser contagiosa, só os objetos (roupas, máscaras, etc.) é que a “pegavam”;
O confinamento em câmaras hiperbáricas especiais eram para proteger o doente, que tinha o sistema imunitário quase inexistente, do exterior e não para proteger o exterior;
Os bebés ainda na barriga das mães não absorviam a radiação.
Sinceramente, não sei se tudo isto é verdade, mas se for, acho perfeitamente normal que não tenha sido explicado na série por uma razão que se percebe muito bem lendo o livro: as pessoas não sabiam disto, ninguém sabia, e a série mostra isso mesmo, o que se passou no desastre, o que as pessoas pensavam naquela altura. Sem estudos e reflexões feitas posteriormente.
E ainda há outras pessoas (russos) que querem fazer outra série a contar “realmente” o que se passou, ou seja, que os americanos sabotaram o reator. Alegam que haviam espiões nas imediações da central nuclear uns dias antes do desastre. Não sei o que pensar sobre isto… O que imagino é que, em plena guerra fria, espiões é o que não faltavam em ambos os solos, soviético e norte americano.
“Dá-me pena ver o país neste estado! (…) Era uma potência! Foda-se! Até Gorbatchev subir… Ao trono… Diabo marcado! O Gorby… O Gorby agiu de acordo com os planos da CIA… (…) Eles fizeram explodir Chernobyl… Os da CIA e os democratas… Li nos jornais… Se Chernobyl não tivesse rebentado, o país não se tinha desmoronado. Uma grande potência! Foda-se! [Mais palavrões.]”