Concerto a um domingo é começar a semana a comer bambu.
Bom, parece que os Dream Theater vieram cá dia no dia 02/02/2020 comemorar o 20º aniversário do Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory e tocar umas músicas do CD novo Distance Over Time, porque, afinal, é este último que dá o nome à tour.
Não vinham a Lisboa há 3 anos, quase o tempo que demorou a termos novamente uma data palíndromo (quando a sequência de nºs dia, mês e ano pode ser lida da direita para a esquerda, e da esquerda para a direita). A última foi há 909 anos, em 11/11/1111, e a próxima é daqui a 101 anos, 12/12/2121, mais ou menos quando os Blind Guardian voltarem a Portugal. Ok, não foi assim tanto tempo (os 3 anos de espera de Dream Theater, não os já passados 10 anos desde que os Blind Guardian vieram ao Festival Ilha do Ermal (que já não existe)), mas quis usar a palavra “palíndromo” no texto.
Por falar em palíndromo, ou melhor, em datas, e aquela história de neste ano não ser aconselhado escrever-se a data com o ano encurtado, por exemplo 14/02/20, porque mentes maldosas podem acrescentar nº s e mudar para qualquer ano (14/02/2006, 14/02/2014, 14/02/2028…). Pelos vistos, deve-se, sim, escrever 14/02/2020.
Depois de uma data ;-) de informação não relevante para esta revie...coisa, vamos continuar com o que interessa. Bom, como o concerto começava às 20h, não jantámos, mas também tínhamos comido que nem uns texugos ao almoço. Sabiam que se costuma chamar texugo-porco ao texugo quando ele está gordo e texugo-cão quando está magro? Um pouco ofensivo, na minha opinião. Por via das dúvidas, e por boa educação, é melhor dar nome aos texugos, que, neste caso, se chamam texugos euroasiáticos.
Eu dispersar? Nunca… Bom, não jantámos, mas chegados ao Campo Pequeno estava um senhor à entrada da sala (e também dentro dela) a vender pipocas. Presságio do filme dramático que estava por vir envolvendo LaBrie a desafinar que nem um texugo-cabra?
Nunca tinha visto um concerto no Campo Pequeno. A sala de espetáculos é pequena (shocking!), mas a arquitetura é bonita. Porém, não deixei de me sentir um pouco gado bovino ali no meio da praça. O chão tinha alcatifa, mas sentiam-se umas tábuas por baixo. Não me deu uma sensação de segurança. Pareciam umas placas tectónicas que poderiam, dentro de momentos, libertar toda a sua energia acumulada. O libertador? LaBrie, claro. Ele não parte vidros, ele faz chocar placas tectónicas. Para além de alcatifa, o Campo Pequeno tem também uma enfermaria. Ideal para quem leva com um touro ou, neste caso, para quem ouve o LaBrie.
Vá já chega de bater no LaBrie. Porquê a falta de fé? Porque uns dias antes do concerto tinha visto um vídeo desta Distance Over Time Tour. Senti vergonha alheia polvilhada com pena.
Perante isto, as minhas expectativas desceram até ao subterrâneo, fazendo companhia às placas tectónicas.
Antes de começar o concerto, havia música ambiente no ar e, no palco, atrás dos instrumentos, via-se na espécie de tela uma projeção de uma imagem animada que tinha a ver com o CD novo Distance Over Time: robots do género do filme I, Robot. Robots fazem-me sentir sempre desconfortável.
A banda de apoio foi muito pontual, começando a tocar às 20h em ponto. Tocaram algumas músicas do seu CD novo (que fiquei a gostar mais depois de ouvir ao vivo), a música do acidente de carro do Petrucci criança e In The Presence of Enemies – Part 1 do CD Systematic Chaos, mais conhecido pelo CD das formigas. Nesta cerca de 1h, o suporte do microfone do LaBrie era uma mão robótica a segurar uma caveira humana, “escultura” alusiva ao CD novo.
20 minutos de intervalo. Torres, para variar, juntaram-se à minha frente para me dificultar o visionamento da banda principal. E não são umas torres quaisquer, são torres que não têm noção do espaço, tais Torres de Pisa.
Tal como a banda de apoio, os Dream Theater foram pontualíssimos. Chegadas as 20h30 lá estava o hipnoterapeuta a fazer-nos regressar a 1999, ao Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory. Desta vez, o suporte do microfone do LaBrie era um infinito - Spirit Carries On para sempre?
O Metropolis Pt.2 é um CD especial. É o primeiro álbum conceptual da banda e conta-nos uma história cheia de plot twists que eu só fiquei a conhecer por causa do concerto. Sim, eu não ligo, ou melhor, eu não costumo perceber as letras. Tenho um problema de não conseguir entender muito bem palavras cantadas. Isto faz-me gostar de bandas só pelo som e não tanto pelas letras.
Depois do concerto fui pesquisar as letras e, como um bom poema, tive de recorrer à sebenta Wikipedia para perceber a história. Aqui vai um resumo da ópera:
Resumo das scenas
Nicholas está numa sessão de hipnose porque deve ter alguns macaquinhos no sotão. Guiado pelo hipnoterapeuta, descobre que foi Victoria numa vida passada e que ela foi assassinada. Victoria era casada com Julian mas este tinha problemas com o álcool, com as drogas e com o jogo. Então ela acaba por se envolver com o irmão dele, Edward. Após umas investigações hipnóticas, Nicholas fica convencido que Julian matou Victoria e Edward. Mas vai-se a ver e, afinal, foi Edward que matou Victoria e Julian porque eles tinham começado a reconciliar-se. Edward forjou a cena do crime e assumiu o papel de testemunha no caso. Antes de matar Victoria, ele diz-lhe "open your eyes", o mesmo comando que o hipnoterapeuta diz a Nicholas para o fazer acordar da hipnose. Já acordado, Nicholas vai para casa feliz da vida porque o espírito dele nunca morre. Não repara é que o hipnoterapeuta seguiu-o e este surpreende-o novamente com um "open your eyes". Ouve-se um grito de Nicholas. O hipnoterapeuta era o Edward reencarnado. Matou Nicholas para fechar novamente o ciclo.
E ESTA, HEIN?!
Gostei bastante de ouvir este CD inteiro ao vivo. O LaBrie surpreendeu-me. Não me pareceu muito desafinado, mas também o som não estava espetacular. Verdade seja dita, o homem já tem 56 anos e merece o meu respeito e um ralhanço virtual por andar a fazer tours de quase 3h cada concerto. Não há voz que aguente. E nas minhas pesquisas pós-concerto, descobri que em dezembro de 1994 ele teve uma intoxicação alimentar e chamou pelo Gregório com tanta intensidade que rompeu as cordas vocais. Inteligente, foi fazer uma tour logo no mês seguinte. Resultado: só se sentiu “vocalmente normal” em 2002. Não me interessa que já não cante como antes. Sempre ouvimos o Mustaine a cantar mal e ninguém se queixa. Ao menos já ouvimos o LaBrie a cantar bem. Atenção, não trocava o Mustaine por mais ninguém em Megadeth. Podem pousar os tomates podres.
A Scene Six: Home foi um sucesso para mim e a Scene Eight: Spirit Carries On foi iluminada por caga-lumes tecnológicos.
No encore o LaBrie voltou com o seu suporte de microfone robot e tocaram mais uma música do CD novo, a At Wit’s End. Foi um pouco anticlimático. Preferia um Pull Me Under, ou até mesmo, a parte I do Metropolis.
Durante todo o concerto o teclista Jordan Rudess esteve às voltinhas com o seu teclado. Aquilo virava para todos os lados, até fiquei com motion sickness. O baterista Mike Mangini parecia um puto charila com um boné com a pala para trás (ainda não percebi porque é que os fãs choram tanto a dizer que ele não é igual ao Portnoy. Pois não, são pessoas diferentes, pasme-se…). O Petrucci lá estava com os seus solos (gosto quando eles ligam bem com a música, quando é só show off irrita-me um pouco). O baixista John Myung não se dá muito por ele, mas desconfio que seja a melhor pessoa do quinteto. Faz ele bem em se afastar da luta de egos (falo isto com zero conhecimento de causa).
E para acabar, só peço uma coisa: donos de salas de espetáculo, deixem de contratar gajos com mochilas de cerveja às costas para andar no meio da plateia em pé. Atrapalha a magia, a sinergia entre o público e o artista. Fotógrafos eu aceito, agora beerbusters não.
Qualquer semelhança com a ficção é pura coincidência.
P.S.: Se quiserem ler realmente uma review e não uma coisa: Arte Sonora - Dream Theater, Um Enorme Coração Sem Alma
Mais do que uma review, uma coisa - “As Vozes de Chernobyl” ouvidas por Svetlana Alexievich
A roda gigante fazia parte do parque de diversões de Pripyat que iria ser inaugurado em 01/05/1986, mas foi cancelado devido ao desastre em 26/04 do mesmo ano. Algumas fontes afirmam que o parque foi aberto no dia 27/04, antes do aviso de evacuação, para destrair a população. A roda gigante nunca chegou a elevar ninguém até aos céus. Nem sequer a sua construção estava acabada.
Título original: Tchernobylskaia Molitva
1ª Publicação: 1997
1ª Publicação em PT: 2016
Subtítulo na edição PT: História de um desastre nuclear
O meu humilde exemplar:
Tradutora: Galina Mitrakhovitch
Editora: Elsinore – 20 | 20 Editora
3ª Edição - 2018
Capa mole
328 páginas
Comprado na 89ª Feira do Livro de Lisboa (2019)
Curiosidades:
Svetlana Alexievich recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 2015;
Comprei este livro no 1º dia da Feira do Livro de 2019;
O livro recolhe relatos orais de pessoas que viveram o desastre: mulheres de liquidadores, mulheres de bombeiros, liquidadores, crianças, a própria Svetlana…
No livro fala-se muito de como a Bielorrússia foi afetada e como se deu pouco destaque a esse facto;
Vou usar 1500 excertos do livro porque só lendo...
Sinopse numa frase:
A história do desastre de Chernobyl por detrás dos panos.
Estava eu muito bem a ter o meu ritual de beleza noturno, que inclui cremes e ver vídeos no Youtube, quando escolho o vídeo da booktuber Tatiana Feltrin sobre o Vozes de Tchernóbil:
Vejo vários vídeos desta booktuber, mas este saltou-me à vista porque, como todo o bom Ser Humano, tenho uma queda para gostar de desgraças históricas.
Fiquei com o livro atrás da orelha, porém naquela altura não o podia comprar. Dias depois, chega-me aos olhos um dos trailers da minissérie Chernobyl da HBO. Aquele “Vnimanie, Vnimanie” era aterrador. Lá estreou e vi os episódios todos (recomendo vivamente). No meio da visualização tivemos a Feira do Livro de Lisboa e, TARAM, o Vozes de Chernobyl era livro do dia logo no 1º dia de feira. Lá fui eu trazer um exemplar para casa.
Deixei acabar a série e logo em seguida comecei a ler o livro (coloquei em standby a leitura do Anna Karénina…). Pensei que o livro não me ia impressionar mais do que a série, que já estava vacinada, porém enganei-me redondamente.
Logo quando comecei a ler a primeira história pensei “Pera lá, eu já li isto em qualquer lado...”. Não li, mas vi na série. A primeira história do livro é a da Liudmila Ignatenko, a mulher do falecido bombeiro Vassíli Ignatenko. E se pensam que na série viram o pior desta história…
“Quando descobriu que iriam extrair medula óssea da irmãzinha mais nova, recusou-se terminantemente. “Preferia morrer. Não lhe toquem, ela é pequena.” A irmã mais velha, Liúda, tinha vinte e oito anos, e era, ela própria, enfermeira, sabia em que é que se estava a meter. “Desde que ele sobreviva”, dizia ela. Eu vi a operação. Estavam deitados um ao lado do outro nas marquesas… Havia uma grande janela que dava para a sala de operações. Demorou duas horas. Quando acabaram, Liúda estava pior do que ele, tinha dezoito perfurações no peito, recuperou com dificuldade dos efeitos da anestesia. Agora é doente, tem invalidez… Era uma rapariga forte e bonita. Nunca se casou.”
“Nem conseguia sentir o leve bater debaixo do meu coração. Embora estivesse de seis meses… Pensava que a minha pequenina estava dentro de mim, que estava protegida. Minha pequenina...”
“Vestiram-no com uniforme de gala, puseram o quepe ao peito. Não encontraram calçado para ele, porque as pernas tinham inchado. Tinha bombas em vez de pernas. Também tiveram de cortar o uniforme, porque não o conseguiram vestir, já não havia um corpo inteiro. Todo ele – uma ferida em sangue. Nos últimos dois dias no hospital… Levanto-lhe o braço e o osso abana, dança, o tecido corporal desprendeu-se dele. Pedacinhos dos pulmões e do fígado saíam-lhe pela boca… Ele engasgava-se com as próprias vísceras… É impossível contá-lo! É impossível escrevê-lo! E mesmo viver… Tudo nele era amado… Tão amado...”
“Catorze dias é quanto dura a evolução da sídrome aguda da radiação. Em catorze dias uma pessoa morre...”
“Matei-a… Eu… ela… salvou… A minha menina salvou-me, recebeu todo o choque radioactivo, foi como um para-raios. Minha bebezinha. Tão pequenina. [Respira com dificuldade.] Ela salvou-me… Mas eu amava-os aos dois. Porque… Porque não se pode matar com amor, pois não? Com tamanho amor! Porque é que estas coisas andam a par? Amor e morte. Estão sempre juntas. Quem me vai explicar isto? Rastejo à volta da sepultura de joelhos… [Longo silêncio.]”
Nota-se claramente que algumas das pessoas que deram voz a este livro não estão bem psicologicamente, mas têm reflexões que beiram a poesia.
Outra realidade difícil de se ver na série e de ler no livro foi o que faziam com os animais. As pessoas foram evacuadas e não podiam levar os seus patudos. Assim, foram deixados para trás e abatidos por caçadores, porque, supostamente, estavam contaminados. Pergunto-me porque não os deixaram simplesmente lá. Acho que dificilmente iriam para fora da zona de evacuação.
“Ora, a cadela está no meio da sala e os filhos ao redor… Atacou-me: apanhou logo com a bala… Os cachorrinhos lambem-me as mãos, vêm com meiguices. Traquinas. Tinha de atirar à queima-roupa… Ai, minha nossa! Um cachorro… Um canichezinho preto… Ainda hoje sinto pena dele. Enchemos o camião até transbordar. Levamo-los ao “depósito do subsolo”… Verdade seja dita, é uma fossa profunda comum, embora as regras mandem escavá-la de modo a não atingir as águas subterrâneas, revestindo-se o fundo com celofane. Encontrar um sítio elevado… Mas estas regras, como bem compreende, não eram cumpridas em lado nenhum: não havia celofane, não se perdia muito tempo à procura do sítio adequado. Os animais se não estiverem mortos mas apenas feridos, chiam… Choram… O camião atirou-os para a fossa, mas esse canichezinho foi trepando. E saiu. A ninguém sobrou um cartucho… Não havia com que matar a tiro… Nem um único cartucho… Foi empurrado de novo para a fossa e coberto com terra. Ainda hoje tenho pena.”
De partir o coração são também os testemunhos de crianças ou acerca de crianças. Elas têm uma consciência da morte que, normalmente, as crianças não possuem. Passam muito tempo no hospital, vêm os amigos morrerem, sonham com a morte...
“Voltámos para casa. Tirei tudo, despi a roupa toda que usava lá e atirei-a para a conduta de lixo. Quanto ao barrete, dei-o ao meu filho pequeno. Ele pedira-mo muito. Andava de barrete sem nunca o tirar. Dois anos depois foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral…”
“Levámos à zona de Chernobyl um espetáculo alegre, Dá-me Água, Ó Poço. Um conto fantástico. Chegámos à vila de Khotimsk, no centro do distrito. Ali existe um orfanato. Aquelas crianças não foram retiradas.
Intervalo. Não batem palmas. Não se levantam. Estão caladas. Segunda parte. O espetáculo acabou. Não batem palmas. Não se levantam. Estão caladas.
Os meus alunos estão quase a chorar. Juntamo-nos nos bastidores, perguntamo-nos: o que se passa com eles? Depois percebemos: as crianças acreditavam em tudo o que se passava no palco. Na peça esperava-se um milagre. Outras crianças, as que vivem em família, compreendiam que era teatro. Mas estas estavam à espera de um milagre.”
“Os meus alunos apaixonam-se, têm filhos. Os filhos deles são silenciosos, fracos. Depois da guerra regressei do campo de concentração… Estava viva! Naquela altura era preciso apenas sobreviver, a minha geração ainda hoje fica admirada por ter sobrevivido. Eu podia comer neve em vez de água, podia não sair do rio o verão inteiro, podia mergulhar cem vezes. Os filhos deles não podem comer neve. Mesmo a neve mais branca e pura… [Fica ensimesmada.]”
“Hoje uma mãe trouxe a filha à minha consulta. “O que te dói?” “Dói o mesmo que à minha avó: o coração, as costas, tenho tonturas.” Conhecem a palavra alopecia desde pequenos porque muitos andam carequinhas. Sem cabelo. Sem sobrancelhas, sem pestanas. Todos se habituaram a isso. Mas na nossa aldeia só há escola primária, para frequentar o quinto ano é preciso ir de autocarro dez quilómetros. E choram porque não querem ir. As outras crianças vão-se rir delas.”
“Eu estava internada no hospital… Tinha tantas dores… Pedia à minha mãe: “Mãezinha, não aguento. Prefiro que me mates!”
“Deixámo-lo em casa e fechámos o meu hamsterzinho. Branquinho. Deixámos-lhe comida para dois dias. Mas partimos para sempre...”
“A mãe e o pai beijaram-se, e eu nasci. Antes eu pensava que nunca iria morrer. Mas, agora sei que vou morrer. Havia um menino no hospital… O Vádik Korinkov… Desenhava-me passarinhos, casinhas. Ele morreu. Morrer não me assusta. Vais dormir por muito tempo, nunca irás acordar. O Vádik dizia-me que quando morresse iria viver muito tempo noutro lugar. Um dos meninos mais velhos tinha-lo dito. Ele não tinha medo. Sonhei com a minha morte. Ouvi no sonho o choro da minha mãe. E acordei...”
“Desapareceram os besouros. Ainda hoje não os temos. Poderão regressar daqui a cem anos ou mil anos, diz o nosso professor. Mesmo eu não os vou ver… Tenho nove anos… E então minha avó? É velhinha...”
“Tenho doze anos… Estou sempre em casa, sou inválida. Na nossa casa, o carteiro traz a pensão para mim e para o meu avô. As raparigas da minha turma, quando souberam que eu tinha cancro do sangue, tinham medo de se sentar ao meu lado, de me tocar. Eu olhava para as minhas mãos… Para a minha pasta e para os meus cadernos… Nada tinha mudado. Porque têm medo de mim? Os médicos disseram que adoeci porque o meu pai trabalhou em Chernobyl. E eu nasci depois. Mas eu gosto do meu papá.”
“Tenho um irmão pequeno… Ele gosta de brincar a Chernobyl. Constrói um abrigo contra as bombas, cobre o reator com areia… Ou veste-se como um espantalho, corre atrás da gente e mete medo: “Oh oh oh! Sou a radiação! Oh oh… Sou a radiação!” Ele ainda não era nascido quando aquilo aconteceu.”
“Estão todos calados: o professor, os médicos, as enfermeiras. Pensam que não suspeito, que não sei que vou morrer daqui a pouco tempo. (…) O meu melhor amigo chamava-se Andrei… Foi operado duas vezes e mandado para casa. Esperava-o uma terceira cirurgia seis meses depois… Enforcou-se com o cinto… Na sala de aula vazia, quando estavam todos na aula de educação física. Os médicos proibiram-no de correr, de saltar. Dantes era considerado o melhor futebolista da escola. Antes… Antes da operação… Tive muitos amigos aqui… A Iúlia, a Kátia, o Vadim, a Oksana, o Óleg… Agora o Andrei… “Vamos morrer e tornar-nos ciência”, dizia o Andrei. “Vamos morrer, seremos esquecidos”, assim pensava a Kátia. “Quando morrer, não me enterrem no cemitério, tenho medo do cemitério, só há mortos e corvos. Enterrem-me no campo”, pedia a Oksana. “Vamos morrer...”, chorava a Iúlia. Para mim, o céu agora é vivo, quando olho para ele… Eles estão lá...”
Neste livro fala-se também muito do espírito soviético. A maioria das pessoas não se importava com o individual, com a sua própria morte. Importava sim, proteger a União Soviética, fisicamente e moralmente. Porém, acredita-se que a catástrofe de Chernobyl ajudou na sua queda.
“Fomos educados no espírito de um paganismo soviético particular: o homem é soberano, a obra-prima da criação. Está no direito de fazer com o mundo tudo o que quiser. A fórmula de Mitchúrin: “Não podemos esperar favores da Natureza: temos de os arrancar dela – é essa a nossa tarefa.” A tentativa de incutir no povo as qualidades e as características que ele não possui. O sonho de revolução mundial é o sonho da transformação do homem e de todo o mundo à sua volta. Refazer tudo. Sim! O famoso lema bolchevique, aquela frase de Trótski: “Levaremos a humanidade à felicidade com mão de ferro!”
“Rapazes novos… Também estão a morrer, mas compreendem que se não tivessem sido eles… Além disso, são pessoas de uma cultura particular. A cultura da proeza. Do sacrifício.”
“Nos primeiros dias as pessoas experimentaram não só o medo, mas também uma elevação do espírito. Eu sou a pessoa a quem falta instinto de autopreservação. É normal porque está fortemente desenvolvido o sentido do dever. Havia muita gente assim, não era só eu… Tinha na minha secretária dezenas de pedidos: “Peço-lhe que me envie para Chernobyl.” O apelo ao coração! As pessoas estavam dispostas a sacrificar-se, sem hesitar e sem exigir nada em troca. Escrevam o que escreverem, o caráter soviético existiu. E o homem soviético existiu. Escrevam o que escreverem e renegarem… Ainda vão ter saudades deste homem… Vão recordá-lo...”
“Chernobyl fez desabar o império, curou-nos do comunismo… Dos atos heróicos que parecem suícidios, das ideias terríveis… Já começo a entender… O ato heróico são palavras inventadas pelo Estado. Para pessoas como eu. Mas eu não tenho mais nada, não tenho outra coisa, cresci no meio dessas palavras e dessas pessoas. Desapareceu tudo, esta vida foi-se. A que me devo agarrar? Como me hei de salvar? Não se pode sofrer assim sem haver sentido. [Silêncio] Só sei que nunca mais serei feliz...”
“Naquela altura eu pensava noutra coisa… Vai-lhe parecer estranho… Precisamente naquela altura divorciava-me da minha mulher… (…) Mas eu, naquela altura, andava quase louco. A minha mulher traíra-me, tudo o resto parecia parvoíce. (…) Mas a minha esposa deixara-me… Não conseguia pensar noutra coisa… Tentei suicidar-me várias vezes, engolia comprimidos e desejava nãp acordar. Tínhamos frequentado o mesmo jardim de infância e a mesma escola… O mesmo instituto… (…) Assaltavam-me pensamentos do género: não sendo tempo de guerra, segundo parecia, porque teria eu de arriscar, quando alguém andava a dormir com a minha mulher? Porquê outra vez eu e não ele? Para ser franco, não vi heróis lá. Vi tresloucados que menosprezavam as próprias vidas, houve também temeridade, mas não era necessária. Tambŕm tenho certificados de louvor e agradecimentos… Mas tudo isso é porque não tinha medo de morrer Queria lá saber disso! Até podia ser uma saída. Seria enterrado com todas as honras… E à custa do erário público… (...)
Os jornais eram distribuídos diariamente. Eu só lia as manchetes: “Chernobyl: lugar de feitos heriocos”, “O reator foi derrotado”, “A vida continua”. Tínhamos comissários políticos, realizavam-se palestras sobre o momento político. Diziam-nos que havíamos de vencer. Quem? O átomo? A física? O espaço cósmico? No nosso país, a vitória não é um acontecimento, é um processo. A vida é luta. Daí tanta afeição por inundações, incêndios… Terramotos… É preciso um lugar de ação “para mostrar coragem e heroísmo”. E hastear a bandeira. O comissário político lia artigos dos jornais sobre o “alto nível de consciência e organização precisa”, e como poucos dias após o acidente a bandeira vermelha já voava sobre o quarto reator. Ardentemente. Poucos meses depois, a alta radiação devorou-a. Hastearam uma nova bandeira. Em seguida, mais outra… Rasgavam a bandeira velha para lembranças, enfiavam os fragmentos dentro do casaco, perto do coração. Depois levavam-nos para casa… Mostravam-nos com orgulho às crianças… Guardavam-nos… A loucura heroica! Mas eu também sou assim… Não sou melhor, de modo algum. Tentava imaginar em pensamentos os soldados a subirem ao telhado… Suicidas. Mas eles transbordam de sentimentos… O primeiro é o dever, o segundo, o de Pátria. Dirá: paganismo soviético? Mas a questão é que, se me tivessem posto a bandeira nas mãos naquele momento, eu também teria subido para lá. Porquê? Não sei responder. Não podemos certamente descartar o facto de naquela altura eu não ter medo de morrer… A minha mulher não me escreveu sequer. Nem uma carta em seis meses…”
“Lançado o apelo, lá fui. Tinha de ir! Era militante do Partido. Comunistas, avante! Era esta a situação. Eu servia na milítsia. Primeiro-sargento. Foi-me prometida mais uma estrelinha nas platinas. Corria o mês de junho de 1987… É obrigatório passar um exame médico, mas fui enviado sem exame. Como se costuma dizer, alguém se safou, trouxe um atestado em como tinha úlcera gástrica, e enviaram-me em vez dele. Com urgência. Era esta a situação… [Risos] Naquela altura já circulavam anedotas. Surgiram logo… O marido chega do trabalho a casa e queixa-se à mulher: “Disseram-me: amanhã ou vais para Chernobyl, ou devolves o cartão de militante.” “Mas se não és militante!” “Pois, estou precisamente a pensar onde hei de arranjar cartão de militante até amanhã.””
“Sou militar, recebo uma ordem – devo cumprir… Prestei juramento… Mas não é só isso… O impluso heroico também existiu. Fora formado… Fora-nos inculcado ainda na escola. Pelos nossos pais. Lá, também havia discursos de comissários políticos. Rádio, televisão. Diferentes pessoas reagiam de formas diferentes: algumas queriam ser entrevistadas e ver uma publicação sobre si nos jornal, outras encaravam tudo como um trabalho, outras ainda… Conheci-as, viviam com a sensação de estar a cometer um ato heroico. De participar na História. Éramos bem pagos, mas era como se a questão do dinheiro não tivesse tido importância. O meu salário são quatrocentos rublos, e lá eu recebia mil, nos rublos daquela época, os soviéticos. Naquele tempo, um monte de dinheiro. Mais tarde acusaram-nos: “Vocês lá ganhavam dinheiro a rodos, mas depois de regressar exigem carros e mobiliário fora da lista de espera.” Isto magoa, claro. Porque o impulso heroico também existiu...”
Por fim, há pessoas que afirmam que existem coisas mal explicadas na série, como:
O facto de a radiação não ser contagiosa, só os objetos (roupas, máscaras, etc.) é que a “pegavam”;
O confinamento em câmaras hiperbáricas especiais eram para proteger o doente, que tinha o sistema imunitário quase inexistente, do exterior e não para proteger o exterior;
Os bebés ainda na barriga das mães não absorviam a radiação.
Sinceramente, não sei se tudo isto é verdade, mas se for, acho perfeitamente normal que não tenha sido explicado na série por uma razão que se percebe muito bem lendo o livro: as pessoas não sabiam disto, ninguém sabia, e a série mostra isso mesmo, o que se passou no desastre, o que as pessoas pensavam naquela altura. Sem estudos e reflexões feitas posteriormente.
E ainda há outras pessoas (russos) que querem fazer outra série a contar “realmente” o que se passou, ou seja, que os americanos sabotaram o reator. Alegam que haviam espiões nas imediações da central nuclear uns dias antes do desastre. Não sei o que pensar sobre isto… O que imagino é que, em plena guerra fria, espiões é o que não faltavam em ambos os solos, soviético e norte americano.
“Dá-me pena ver o país neste estado! (…) Era uma potência! Foda-se! Até Gorbatchev subir… Ao trono… Diabo marcado! O Gorby… O Gorby agiu de acordo com os planos da CIA… (…) Eles fizeram explodir Chernobyl… Os da CIA e os democratas… Li nos jornais… Se Chernobyl não tivesse rebentado, o país não se tinha desmoronado. Uma grande potência! Foda-se! [Mais palavrões.]”
Mais do que uma review, uma coisa - A Metamorfose de Franz Kafka
A sombra é de propósito. É suposto ser um chinelo xD
Título original: Die Verwandlung
1ª Publicação: 1915
1ª Publicação em PT: 1975
O meu humilde exemplar:
Tradutor: João Barrento
Editora: Ulisseia - Babel
Edição de 2011
Capa dura
105 páginas
Comprado na 89ª Feira do Livro de Lisboa (2019)
Curiosidades:
Comecei a leitura numa Conservatória do Registo Civil enquanto esperava para renovar o Cartão do Cidadão.
Já depois da ficha técnica do livro está uma frase de José de Almada-Negreiros: “Nós não somos do século d’inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século d’inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.”
Sinopse numa frase:
Um homem, que sustenta a família (pais e irmã), transforma-se num “insecto monstruoso” da noite para o dia.
“Um dia de manhã, ao acordar dos seus sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si em cima da cama, transformado num insecto monstruoso.”
Qual seria esse “insecto monstruoso”? Durante a maior parte do livro, Kafka não revela exatamente qual é o animal que causa tanta aversão. Fala em carapaça, patinhas, antenas e mandíbulas, mas não dá nome aos bois, ou neste caso, ao inseto. Tudo leva a crer que seja uma barata, porém descobri que era um escaravelho, segundo uma exclamação da empregada:
“A princípio até o chamava, com palavras que provavelmente achava simpáticas, como “Vem cá, meu escaravelho de uma figa!”, ou “Olhem-me só para este escaravelho de uma figa!” Gregor nem reagia a estes apelos, ficava imóvel no seu lugar como se ninguém tivesse aberto a porta.”
A metamorfose de Gregor Samsa até poderia não ter consequências graves se ele vivesse sozinho, entregue a si, e sem ninguém que dependesse dele. Por azar, ele não só vivia com a família, como esta dependia totalmente de si. Até a disposição do quarto de Gregor dá a entender que ele é o coração daquela casa. A assoalhada dá para diversas divisões da casa:
“Da sala da direita, a irmã sussurava, avisando-o “Gregor, está aqui o gerente.” (…) “Gregor” - agora era a voz do pai, da sala à esquerda.”
A maior parte das pessoas que dão com a cara nele sentem nojo e não acreditam que ele ainda seja ele. Sequer cogitam que Gregor consiga perceber o que lhe é dito. Porém, a irmã ainda o ajuda, pois o amor fraternal é mais forte. Mesmo assim ela não consegue olhar para o mano inseto e prefere quando este se esconde.
“Uma vez, teria passado um mês deste a metamorfose de Gregor e não havia já razão para a irmã se espantar muito com o aspecto dele, ela entrou um pouco mais cedo do que o habitual e encontrou Gregor imóvel e naquela posição vertical assustadora, debruçado da janela. (…) Mas ela não só não entrou, como recuou e fechou a porta. Um estranho até podia ter pensado que ele estava à espreita e a quisera morder.”
Ao longo da leitura o que me afligiu não foi tanto a metamorfose, mas sim o fato de ele se aperceber de tudo, de entender tudo o que é dito, mesmo a família pensando o contrário. Para eles, Gregor é só um inseto que não fala, não percebe nada à sua volta. Só rasteja, come lixo e vive para ser repugnante.
“”Meus pais”, disse a irmã (…) “Se não quiserem ver as coisas como eu, o problema é vosso, mas eu nego-me a pronunciar o nome do meu irmão diante deste monstro, e digo apenas que temos de encontrar uma maneira de nos livrarmos dele.”
Porém, a metamorfose para o mal inicia uma metamorfose para o bem na sua família. O pai que pensa que é quase inválido, volta a trabalhar. A irmã considerada um estorvo, cresce intelectualmente e passa a ser olhada com admiração pelos pais. E a mãe, frágil e doente, vê que ainda consegue ser útil e costurar para uma loja de moda.
A Metamorfose é uma metáfora, ou será até mesmo uma fábula? Gregor Samsa inseto pode ser uma pessoa com qualquer doença ou vícios que a torne dependente de terceiros e, principalmente, que seja visto como um estorvo, um estorvo que a, longo prazo, nem dá vontade de olhar para ele. A longo prazo, porque de início a família aguenta, os amigos aguentam...mas até que ponto é que podemos censurar a renúncia, o cansaço dos que estão à volta do “inseto”?
Talvez o “inseto” até possa ser tudo o que é “feio”, tudo o que não é “normal”, tudo o que não se consegue compreender e é preferível virar a cara para o lado, ou, pior ainda, magoar e fazer sentir a repugnância.
Por outro lado, para mim, A Metamorfose é um exercício de escrita. Um exercício em que se parte de um acontecimento/ato e se imaginam todas as consequências que podem advir daí. Aqui, temos Gregor Samsa que acorda transformado num inseto e ao longo de todo o livro testemunhamos como esse acontecimento afeta a vida do personagem e de toda a sua família. Saramago também era muito dado a este tipo de exercício, veja-se o Ensaio Sobre a Cegueira - e se toda a gente cegasse?, as Intermitências da Morte – e se a morte tirasse férias?, ou o Ensaio Sobre a Lucidez – e se a maioria da população votasse em branco?.
É o primeiro livro de Kafka que leio e pretendo ler mais. Inclusive, comprei há pouco tempo O Processo. Vamos ver se a leitura será tão fluída como A Metamorfose.
Mais do que uma review, uma coisa - Concerto dos Riverside no LAV (03/11/2018) e jantar no El Bulo
Era o tão esperado dia, o dia em que os Riverside vinham (acho) pela 3ª vez (pelo menos eu só os vi 3 vezes, a contar com esta) a Lisboa. Chegámos ao Lisboa Ao Vivo (LAV), cumprimentei dois amigos. Um deles disse-me que eu estava a cheirar a vinho (tinha bebido um copo de vinho branco ao jantar num restaurante ali perto, o El Bulo do Chakall). Trocámos os bilhetes digitais pelos físicos. Eram de um papel grosso, brilhante, com a fotografia dos 3 integrantes da banda impressa. Guardei-o na minha mala (pequena porque não vale a pena levar uma garrafa de água. Ela corre o risco de acabar num caixote do lixo). Tenho uma caixa em casa cheia de bilhetes de concertos. É o que eu mais coleciono. Isso e fitas porta-chave.
Entrámos no LAV, fui ao WC (tenho uma reclamação: os cubículos não têm um gancho cabide), lavei as mãos com um sabonete que sai do dispensador logo espuma e cheira a pastilha elástica. Passados uns 15 minutos a banda de suporte começou a tocar. Mechanism chamam-se eles. Nunca os tinha ouvido e, infelizmente, não me entrou. Talvez tenha de dar uma pesquisadela no Spotify. Durante a hora que lhes foi reservada, dei por mim a pensar na feijoada que a minha mãe ia fazer no dia seguinte. O molho um pouco espesso, mas nem tanto, que dá para molhar com o pão. O chouriço que se pensa ser pastilhoco até se trinca bem. Bom, onde é que eu ia? Ah, Mechanism… Também deitei o olho à mesa de luzes e som. Não percebo como é que os técnicos não se trocam todos com tantos botões. Quer dizer, até percebo… São profissionais. Falando das luzes, elas são sempre agradáveis de se ver, ajudam na grandiosidade do espetáculo, até uma te ir direta às trombas, deixando-te totalmente encadeado.
Depois dos Mechanism, demoraram cerca de 15-30 minutos para aparecerem os gajos que eu queria ouvir. Tocaram algumas músicas do CD novo, Wasteland, mais calmas comparando com os primórdios, mas não menos poderosas. No menu também estiveram músicas mais antigas como a Out of Myself, quase como um grito do Ipiranga, e a Panic Room. O vocalista Mariusz Duda estava um pouco fanhoso, no final já estava até a perder a voz, mas ainda cantou a River Down Below com a ternura que a música pedia. O que não foi ternurento foram os meus pensamentos homicidas sobre as torres que insistem em tapar-me o campo de visão em qualquer concerto. Devo atraí-los. É isso e mosquitos.
Pontos altos da noite:
1º - O jantar no El Bulo. Tudo o que comi estava do lóbulo da orelha. A empada com queijo e ratatouille fez com que as minhas papilas gustativas salivassem por mais. Tinha um azeite com bocados de cebola, tomate e mais não sei o quê, que combinava muito bem e deixou-me com as mãos gordurosas. Não faz mal. Como dizia o outro “No pain, no gain”. Só comi entradas porque os pratos principais faziam a carteira atirar-se do bolso numa tentativa suicida. Por fim, a sobremesa era do diabo de tão boa.
MASHALA DE CHOCOLATE - Bolo de chocolate negro (80%), servido com molho de frutos vermelhos… BALHA-ME DEUS E O CINTO QUE NÃO FECHA!
2º - Esbarrar com o vocalista e o teclista dos Riverside ao entrarmos no LAV.
3º - As luzes em algumas músicas da banda principal. Numa delas, parecia que estava num nível do Tomb Raider, com lasers vermelhos por todo o lado.
4º - O alívio de saber que não sou só eu que não sei a letra das músicas. Na Panic Room toda a gente cantava “Sweet shelter of mine”, mas depois “I’m rhierhgurwht without”. Não se notava até o Mariusz pedir para cantarmos sozinhos em coro. “Really guys?”.
5º - As palavras da banda para o guitarrista Piotr Grudziński que, mesmo não fisicamente, estava lá entre nós. A salva de palmas foi arrepiante. Ficámos todos de mãos a arder e olhos humedecidos.
6º - Apanhar uma das palhetas do Mariusz Duda.
P.S.: O vocalista dos Mechanism parece um gajo famoso bem-apessoado do Instagram - https://www.instagram.com/lasselom/
Afinal não estava assim tão desinteressada...
P.S.2: Taparem-me o campo de visão com telemóveis é bastante irritante, por outro lado podem-se recordar momentos como este: (está perdoado quem fez o vídeo, até porque não estava à minha frente =))
RoboCop 2014 Vs RoboCop 1987
Antes de mais devo dizer que um disfarce de RoboCop para o carnaval é bem pensado.
Aqui há umas semanas fui ver ao cinema o remake do RoboCop. Devo dizer que não é mau, mas fiquei curiosa para ver o filme antigo, pois que não me lembrava de o ter visto (dêem-me um desconto, eu ainda não era nascida e agora que já tenho idade para ver filmes destes (já vão perceber porque é que estou a falar de idades) apareceu este remake…).
Por um lado, estava com um pouco de medo de achar o RoboCop de 1987 ridículo, mas tentando-me colocar nos anos quase 90 lá o vi. Vi uma versão remastered, logo a qualidade não ficava muito atrás dos filmes de hoje em dia. Devo dizer que não estava nada à espera de tanto “gore”. E devo dizer que já percebi porque nunca o tinha visto: era pequena demais e os meus pais são uns bons pais. Definitivamente é um filme para pessoas maiorzinhas e mesmo assim fiquei chocada com umas cenas (ou então sou eu que sou muito sensível).
Não tinha a mais pequena ideia que os filmes destes anos eram mais violentos que os de agora. Pensei que fosse o contrário. Mas vendo estas duas versões do polícia robot dá para ver a diferença. Principalmente na cena da suposta morte do agente Alex Murphy que depois vira RoboCop. No novo é uma explosão em que apenas se vê o carro a fazer-se em merda e pronto (se fosse no de 1987 de certeza que se via membros a voar). As únicas partes chocantes (mas nada que me fizesse pôr a mão na boca e dizer “oh”) são quando mostram uma foto do gajo depois da explosão (mas como ele está todo em ligaduras também não faz impressão) e quando tiram as partes todas do fato (que não é um fato, é ele mesmo) e ele apercebe-se que é só uma cabeça e uns pulmões (ok, aqui fiquei meio “oh”).
No original de 1987 a cena da “morte” do Alex Murphy é de levar a mão à boca e dizer “oh”. Não é numa explosão, mas sim levando um porradão de tiros. Tiro na mão -> fica sem mão (grande plano do coto a deitar sangue), mais tiros nesse braço -> fica sem braço, milhões de tiros em todo o lado -> fica todo furado e por fim tiro na cabeça -> morre.
Outra diferença que notei é que no filme velho ele é mais robot, não há aquela mariquice toda com a família. Quer dizer há cenas em que ele se lembra do filho, mas não há aquela cena toda de ele ir falar com a família e etc. como acontece neste novo. Esta diferença (penso eu que se deve a isto) deve-se ao facto de no velho ele ser dado como morto e no novo não. No novo até é a própria mulher que assina o papel para o pessoal o transformar em RoboCop.
Ou seja, a meu ver quiseram tornar a história mais emotiva. Tudo bem, mas só espero que as novas gerações não fiquem a pensar que só existe este filme do RoboCop. Vale a pena ver a versão de 1987 com todas as suas mortes impressionantes (logo ao princípio é de uma pessoa levar a mão a boca e dizer "oh" e ao mesmo tempo rir-se (talvez a parte de rir é só para pessoas com tendências psicopatas - Psico com patas. Esqueçam, este cérebro já viu melhores dias de sanidade)) e com os seus robots a andar de maneira engraçada (as animações são um pouco piores, mas come-se bem. O RoboCop a descer escadas é só rir xD Mas não se riam e digam que é ridículo. O filme já tem quase 30 anos, é normal que certas coisas não sejam tão nices como agora. Tenham respeito. E se querem que vos diga eu achei os robots maiores do filme de 87 mais reais do que o do novo. Deu-me a sensação que efectivamente fizeram um robot na realidade para gravarem). Ah com isto lembrei-me que mesmo assim os robots do novo me meteram mais medo que os do velho, porém os do velho ainda conseguem ultrapassar os robots da série Falling Skies (a sério que a maior falha que eu vejo nesta série (para além de bebés falantes) é os robots não meterem medo nenhum. Eles deveriam ser assustadores, de quase uma pessoa se mijar de medo).
Ah se viram o novo e acharam as partes com o Samuel L Jackson engraçadas, fiquem descansadas que o velho também tem (não com o Samuel L Jackson xD) – as publicidades que aparecem no meio do telejornal são muito nices =D.
Ah e um dos pontos a favor do novo é o RoboCop ter uma mota (fez-me lembrar o Batman (do Christian Bale)).
Veredicto: Vejam os dois =D Não pensem logo à partida que o de 1987 é velho e não presta ou (para os oldschool) não pensem que o novo é mau só porque é novo.
Veredicto pessoal: Incrivelmente, apesar de ter tanta cena gore (ou secalhar foi até por isso :o – tenho que ir ao psicólogo), gostei bastante do filme antigo, mas não consigo dizer que gostei mais ou menos do que o novo.
P.S.: Possivelmente o texto está um pouco confuso. Isto deve-se ao facto de eu detestar reler o que escrevo porque acho-me sempre uma grande idiota que não sabe escrever.
P.S.2.: (Ah consola xD) Para quem acompanha o blog (parece sempre que me estou a dirigir aos bots dos computadores da Google) já deu para perceber que continuo viva xD Só tenho andado desinspirada (ao que vocês pensam: “Anda desinspirada e quando escreve, escreve esta bosta”. É assim a vida…), vamos ver se melhora.