História real de superação

- E agora depois do incrível número musical com a promissora cantora Maria Leal apresento-lhes a história de superação da Sra. Cocozinha.

Voz-off (com imagens da Sra. sentada em casa, com planos de câmera das mãos cruzadas sobre o colo, a passear na rua…): “Este é o relato da história de superação da Sra. Cocozinha. Depois de vários anos de insistência por parte de familiares e amigos, ela finalmente conseguiu parar de colocar açúcar no café. Não só agora poupa dinheiro como consegue notar diferenças no sabor das cápsulas Delta Q. Antigamente a única diferença era o nº da intensidade nas caixas, agora descobriu um novo mundo.”

*Corta para o estúdio onde as senhoras seniores da audiência já estão de lencinho na mão.*

- Realmente esta é uma história muito delicada e profunda. Boa tarde Sra. Cocozinha, seja bem-vinda.

- Boa tarde Dona Fátima. Gosto muito de si. Vejo-a todas as tardes. Adoro ver às sextas-feiras a Máquina da Verdade. São sempre histórias cativantes. – (normalmente as histórias são de pessoas já com os seus 60, 70 anos que vão provar que não traem o respectivo cônjuge. Ou que não roubaram a galinha do vizinho)

- Muito obrigada. Então conte-nos a sua história.

- Bem… *pigarreia um pouco* Não é fácil falar sobre isto como deve compreender, mas estou aqui para mostrar a todas as pessoas que não tenham medo de dar o passo que eu dei. Ora, eu comecei tarde a beber café e sempre com açúcar. Ao principio cheguei a colocar uma colher e meia de açúcar. Certo dia, um familiar meu começou a beber o café sem açúcar. Eu achei uma maluquice, mas cada pessoa faz o que quer da vida, não é? Mas num almoço, esse meu familiar começou a insistir comigo para eu beber o cafezinho sem açúcar. Eu experimentei e vou ser sincera, o inicio é muito difícil. Fiquei com o sabor amargo na boca até lavar os dentes.

- Desistiu?

- Infelizmente sim. Voltei a colocar açúcar, mas desta vez só meia colher. Mesmo assim não pararam de me atazanar o juízo para deixar o açúcar. Disseram-me que assim o café não prestava, que parecia água com açúcar… Eu cedi mais uma vez, mas desta vez jurei para mim mesma que não iria desistir. Comecei por beber sem açúcar quando comia algum bolo/sobremesa com o café. Depois bebi uns dias seguidos sem açúcar até que um dia já nem sentia o amargo no final. Foi maravilhoso. Consigo agora distinguir um pouco os sabores das diferentes cápsulas de café. Foi um processo difícil e demorado, mas valeu a pena.

- Vamos agora parar um pouco para anunciar o nosso passatempo. Ligue o 760 666 666 e habilite-se a ganhar um fantástico Papa-reformas. Vá meninas em coro: 760 666 666. Isto está fraquinho hoje… Não tomaram o Calcitrim à entrada? Aahahah. Vamos continuar com a Sra. Cocozinha. O que pensa agora das pessoas que bebem o café com açúcar?

- Se calhar vai parecer um pouco forte o que eu vou dizer, mas para mim quem bebe café com açúcar não gosta de café.

*GASP – Toda a gente da audiência ficou em choque*

- Tem que ter cuidado com esse tipo de afirmações. Alguém pode ficar ofendido.

- Desculpe, mas em relação a este assunto não posso ser politicamente correcta. Café com açúcar não sabe a café. Ponto. Atualmente, quando experimento colocar açúcar… É água com açúcar autêntica…

 - E o que tem a dizer às pessoas que nos estão a ver aí em casa? - *aponta para a câmara*

- Que não tenham medo de arriscar e experimentem não colocar açúcar no café. E não desistam à primeira adversidade. É difícil, mas é possível chegar lá.

*Aplausos para todo o lado*

- E é com este conselho motivacional que acabamos esta parte e vamos para intervalo. Até já! E já sabe, ligue o 760 666 666.

Já cheira a Natal! Sniff, sniff… Afinal cheira é a borracha queimada…

Já só faltam os folhetos cheios de brinquedos na caixa do correio (alguns até têm quadradinhos ao lado de cada brinquedo para as crianças “escolherem”. Deve ser difícil ser mãe/pai nesta época do ano…) com a Popota e a Leopoldina. Eu pensava que a Leopoldina já não existia e só havia a Popota. Pelo que vejo a Leopoldina agora só trabalha em acções de caridade. Mas parece mais nova, está toda enxuta. A Popota é para as badalhocas. *GASP* Foi forte eu sei, mas epá, não sei porquê, mas nunca a achei fofa. Tem um bocado a mania que é boa. Será que as meninas hoje em dia já não se reviam na Leopoldina e por isso fizeram a Popota (até para reafirmar que as gordinhas também têm o seu espaço? Para quem estude Sociologia, têm aqui uma ideia de tese.). O que não se fala é da quantidade de cocó que ela deve deitar cá para fora. No final das contas estamos a falar de um hipopótamo (até põem um aviso "Splatter Zone" nos Jardins Zoológicos).

Sabe-se que é Natal porque à noite é só anúncios publicitários de perfumes. Sim, aqueles anúncios que tu começas a ver e te perguntas “Isto é sobre o quê?” são geralmente de perfumes. Ai, Valentina, Valentina… Quando era pequerrucha, de manhã, era uma enchente de anúncios de brinquedos: Super Projector Mickey (pesquisei e agora só há no Custo Justo. “O Pluto, Mickey, Minnie e muitos mais. SUPER PROJETOR MIIICKEY!!!” Estas músicas ficam na cabeça tanto como a do Bongo. Quem nunca tentou cantar com os nomes das frutas todas por ordem?), um nenuco que fazia xixi (“Pirolipipi, Pirolipipi, pipipipi. E faz xixi. Ele faz xixi Pirolipipi, Pirolipipi. Mammy pipipi” Quem quiser, há no OLX: https://www.olx.pt/anuncio/pirolipipi-o-boneco-que-faz-chichi-IDyzh7n.html#33dd9bd7a1), barcos dos piratas da lego que tu ficavas “Ena isto era giro era fazer como na publicidade, com água e tudo”, mas ouvias logo a voz da tua mãe “O que é tás a fazer com essa água? Olha para isto tudo molhado. Eu arrumo as coisas e é SEMPRE PRÁ MESMA DA HORA”… E para não fartar também havia publicidade para os mais velhos: artigos chiques da Art Gallery (que por acaso agora acho que se chama só Galeria) – anéis, relógios, conjuntos de loiça com acabamentos em ouro e blá, blá, blá, whiskas saquetas.

E sabiam, pessoas que não são desocupadas e não vêm televisão à hora do almoço, que nos intervalos das novelas repetidas e das “Tardes da Cocozinha” só dá publicidade do tipo televendas? É a fantástica Kleen Kut, chinelos ergonómicos, malas, um aparelhinho que se põe na perna e já não se tem dores nas costas, viagra genérico aprovado pelo Paulo Futre, Calcitrim aprovado pela Simone de Oliveira… Está aberta a caça ao velhinho que está em casa e acha tudo muito útil. Acho piada que em alguns artigos o gajo diz “Pode adquirir esta maravilhosa poia pelo preço que vê no ecrã!”. Podem pôr os preços que quiserem. E o pessoal que vê mal nem sequer fica a saber o preço.


P.S.: Não vejam o vídeo se estiverem a comer ou a beber algo. Pode haver uma desgraça ao nível do engasgamento e/ou de javardice para vocês depois limparem. “É QUE É SEMPRE PRÁ MESMA DA HORA. EU JÁ TINHA LIMPO O CHÃO”. De nada.